Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de
frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os
ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao
lume,
de todas as vezes
deu-me o que é
costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de
ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
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Fernando Pessoa
http://cibelle.arteblog.com.br/317713/Ler-e-sonhar-pela-mao-de-outrem/
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