“ Quando chegaram à cidade, a velha foi de
porta em porta vender a lenha e Oriana voou para cima de um telhado, onde se
sentou a ver a cidade, à espera da sua amiga. Enquanto esperava, começou a
conversar com as andorinhas:
- Os países distantes são maravilhosos -
diziam as andorinhas.
- Contem, contem -
pediu Oriana.
- O rei do Sião tem um palácio com um
telhado de oiro e na China há torres de porcelana - disse uma andorinha.
- Na Oceânia há ilhas de coral cobertas de
relva e palmeiras. E nessas ilhas as pessoas vestem-se com flores e são todas
bonitas, boas e felizes - disse outra andorinha.
- Os cangurus têm uma algibeira para guardar
os filhos e o rei do Tibete sabe ler o pensamento de todos os homens - disse
outra andorinha.
- No alto das montanhas dos Andes há cidades
abandonadas, onde só vivem águias e serpentes - disse outra andorinha.
- Que maravilha! Contem tudo - pediu Oriana.
- Não se pode contar tudo - responderam as
andorinhas. - As maravilhas do mundo são tantas, tantas! Mas vem connosco,
Oriana. Quando vier o Outono nós partimos. Tu também tens duas asas. Vem connosco.
Mas Oriana olhou o vasto céu redondo e
transparente, suspirou e respondeu:
- Não posso ir. Os homens, os animais e as
plantas da floresta precisam de mim.
- Mas tu tens duas asas, Oriana. Podes voar
por cima dos oceanos e das montanhas. Podes ir ao outro lado do Mundo. Há
sempre mais e mais espaço. Imagina como seria bom se viesses. Podias voar
muito alto, por cima das nuvens, ou podias voar rente ao mar azul,
mergulhando a ponta dos teus pés na água fria das ondas. E podias voar por
cima das florestas virgens, e respirar o perfume das flores e dos frutos
desconhecidos. Vias as cidades, os montes, os rios, os desertos e os oásis.
No meio do grande Oceano há ilhas pequeninas com praias de areia branca e
fina. Ali, nas noites de luar, tudo fica azul, parado e prateado. Imagina
estas coisas, Oriana.
Mas Oriana, olhando o alto céu e as nuvens
vagabundas, suspirou e disse:
- Imagino o que seria da velha sem mim
quando ela acordasse numa manhã fria de Inverno e não encontrasse nem o pão
nem o leite.
- Vem connosco, Oriana - tornaram a pedir as
andorinhas.
- Eu prometi tomar conta da floresta -
respondeu a fada - e uma promessa é uma coisa muito importante.
Então as andorinhas fitaram-na com olhos
pretos duros e brilhantes, e com um ar severo disseram:
- Oriana, não mereces ter asas. Tu não amas
o espaço e desprezas a liberdade.
Oriana baixou a cabeça e respondeu:
- Eu fiz uma promessa.
As andorinhas viraram-lhe as costas e não
fizeram mais caso dela. “
In Fada
Oriana, Sophia de Mello Breyner Andresen
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(
Trabalho elaborado por ocasião da leitura orientada do livro A Fada
Oriana de Sophia de Mello Breyner Andresen. )
Olá Maria!
ResponderEliminarGostei muto deste espaço. A escolha de um texto de Sophia De M. B. Andresen foi excelente.
O blogue está lindo e acolhedor.
Olá Mabília, obrigada pelas palavras tão amáveis. Qualquer texto da Sophia será sempre uma boa escolha!
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